2.9.17

Luis Cernuda (No meio da multidão)





EN MEDIO DE LA MULTITUD



En medio de la multitud le vi pasar, con sus ojos tan rubios como la cabellera. Marchaba abriendo el aire y los cuerpos; una mujer se arrodilló a su paso. Yo sentí cómo la sangre desertaba mis venas gota a gota.

Vacío, anduve sin rumbo por la ciudad. Gentes extrañas pasaban a mi lado sin verme. Un cuerpo se derritió con leve susurro al tropezarme. Anduve más y más.

No sentía mis pies. Quise cogerlos en mi mano y no hallé mis manos; quise gritar, y no hallé mi voz. La niebla me envolvía.

Me pesaba la vida como un remordimiento; quise arrojarla de mí. Mas era imposible, porque estaba muerto y andaba entre los muertos.

Luís Cernuda




No meio da multidão vi-o passar, os olhos tão loiros como o cabelo. Rasgava ao andar o ar e os corpos; uma mulher ajoelhou-se-lhe à passagem. Eu senti o sangue desaparecer-me das veias gota a gota.

Vazio, andei sem rumo pela cidade. Gente estranha passava-me ao lado sem ver-me. Um corpo ao tropeçar em mim derreteu-se com um sussurro ligeiro. Andei e andei.

Não sentia os pés. Quis apanhá-los na mão e não encontrei as mãos; quis gritar e não encontrei a voz. Envolvia-me a névoa.

Pesava-me a vida como um remorso; quis afastá-la de mim. Mas era impossível, porque estava morto e andava por entre os mortos.

(Trad. A.M.)


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